Tuesday, May 30, 2006

Why, Lord, did you remain silent? “



















Dou o braço a torcer,
eu, a crente que duvida no que crê,
a céptica que gosta de acreditar que acredita,
a católica de prática inexistente,
a critica feroz da igreja,
aquela que não gostando da figura do “Papa” de per si, muito menos a instituição que este representa,
gostou ( e aplaude) as palavras proferidas pelo Papa BENEDICT XVI aquando da visita ao campo de Auschwitz-Birkenau, no dia 28 de Maio.

A coragem, a emotividade, a análise critica da igreja, a tomada de consciência do erro, da omissão, da conivência, fazem-me curvar perante as palavras de Ratzinger.
Quero acreditar nelas. Sobretudo quero acreditar que encontro nelas um conforto pelo que há data não foi feito.
Uma mensagem de “não ódio”para os que pereceram, uma mensagem de esperança para todos nós.
O silêncio nunca se ouviu tão alto.



“To speak in this place of horror, in this place where unprecedented mass crimes were committed against God and man, is almost impossible - and it is particularly difficult and troubling for a Christian, for a Pope from Germany. In a place like this, words fail; in the end, there can only be a dread silence - a silence which is itself a heartfelt cry to God: Why, Lord, did you remain silent? “

Ratzinger

Monday, May 29, 2006

I will not apologize for who i am















In the "New York Herald..."
November 26, year... 1911...
there is an accountof the hanging of three men.
They died for the murderof Sir Edmund William Godfrey...
husband, father, pharmacist...and all-around
gentleman resident of... Greenberry Hill, London.
He was murdered
by three vagrants... whose motive was simple robbery.
They were identified as...Joseph Green...Stanley Berry...and Daniel Hill.
Green, Berry, Hill.
And I would like to think this
was only a matter of chance.
As reportedin the "Reno Gazette..."
June of ...
there is the story of a fire...
(…)

All I need is a two.
All you need is a deuce.
All right.
That is an eight.
Glad you like my work.
Moment of truth.
The weight of the guilt...
and the measureof coincidence so large...
Craig Hansen took his life.
And I am trying to think...
this was all only
a matter of chance.”

Magnólia
PT Anderson

Os filmes da “nossa vida”, são filmes da nossa vida porque nos tocam, porque nos remetem para um espaço de realidade, de fantasia, de imaginário, de mágoa, de sentimento, de lembrança.
Os filmes da nossa vida, são da nossa vida sem argumentação possível, sem explicação a dar, sem necessidade de razões para o serem.
São porque são.
Porque nós somos os personagens, porque eles são o que nós somos quando sentimos o que eles fingem sentir.

Os filmes da nossa vida são uma forma de resiliência. De enterro de coisas passadas, de luto de algumas revoltas, de exéquias de amores que findaram.
Os filmes da nossa vida são festas que vivemos, velas que sopramos, viagens que fizemos, palavras que já dissemos.
São nossos sem explicação.
Nossos mesmo que nos digam que não, nossos porque sim.
Porque naquela sequência de imagens, uma houve que para sempre nos povoará a memória de qualquer coisa sentida.

Friday, May 26, 2006

...























Há dias em que assim,
sem mais,
todos sorrimos juntos.
uníssono.
Felizes como somos.
Permanência de momentos,
tão nossos, tão urgentes
tão sublimes,
em que o dia acorda e, sem mais,
todos sorrimos juntos.
Felizes como somos.
Sem mais.


"A escrita é a minha primeira morada de silêncio
a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente... areia e mais areia
construindo no sangue altíssimas paredes de nada
esta paixão pelos objectos que guardaste
esta pele-memória exalando não sei que desastre
a língua de limos
espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar
outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo"

Al berto - O Medo

Thursday, May 25, 2006

...

"When we two parted
In silence and tears,
Half broken-hearted,
To sever for years,
Pale grew thy cheek and cold,
Colder thy kiss;
Truly that hour foretold
Sorrow to this.The dew of the morning
Sank chill on my brow - It felt like the warning
Of what I feel now.
Thy vows are all broken,
And light is thy fame:I hear thy name spoken,
And share in its shame.
They name thee before me,
A knell to mine ear;
A shudder comes o'er me - Why wert thou so dear?
They know not I knew thee,
Who knew thee too well: - Long, long shall I rue thee
Too deeply to tell.
In secret we met - In silence I grieve
That thy heart could forget,
Thy spirit deceive.
If I should meet thee
After long years,
How should I greet thee? -
With silence and tears."

Lord Byron


Parabéns ao meu blog, ou seja a mim, pelo 2º aniversário.


Começa hoje a feira do livro de Lisboa.

Wednesday, May 24, 2006

Sometimes

















"On the day of Mary Lisbon´s death by sleeping pills, the paramedics' arrival at the Lisbon household seems almost routine. In the past year, all four of her sisters have committed suicide. Watching the EMS truck arrive, a group of neighborhood boys, recall the paramedics' first visit".


The Virgin Suicides, Jeffrey Eugenides


"Sometimes, when a bird cries out,
Or the wind sweeps through a tree,
Or a dog howls in a far off farm,
I hold still and listen a long time.
My soul turns and goes back to the place
Where, a thousand forgotten years ago,
The bird and the blowing wind
Were like me, and were my brothers.
My soul turns into a tree,
An animal, and a cloud-bank.
Then changed and odd it comes home
And asks me questions. How should I reply?"



Hermann Hesse

Tuesday, May 23, 2006

Clube de Combate



















Contra mim falo.
Para o bem e para o mal. Há de tudo nos blogs.

Artigos de opinião, lamechices, paternalismos, "maternalismos", narcisismos,
armados em vitimas, armados em poetas,
armados em fotografos,
armados em humoristas,

há gente "gira" nos blogs,
há gente demasiadamente estupida nos blogs,
há blogs de tons rosa,
azuis, pretos,
sem ilustrações, com ilustrações a mais,
há palavras feitas,
há textos fielmente copiados sem referencia aos autores,

há textos de autor,
há poesia belissima,
há transcrições de textos que trazem recordações,
há musica, há silêncio,

há pimba,
há ignorância,
há sapiência,
há iluminismo,
há religião,
há racismo,
há futilidade,
há gajas,
há muitas mamas,
há coisas muito, muito boas,
há coisas que chegam a doer,

há gente que não sabe o que diz,
há gente que parece ter mais para dizer.
Há blog estupidos de chatos,
há blogs enfadonhamente vaidosos,
há gente que escreve bem,

há gente que julga que escreve bem,
há gente que se importa,
há gente que se está marimbando.
Os blogs são o refelexo de tudo isto onde vivemos...um clube de combate.



"You're young. You have an easy, well-paid deskjob. You have a condo, Swedish furniture, artistic coffee tables and a fridge full of condiments.
Yet you feel emotionally and spiritually empty.
You eventually find comfort in going to support groups for lukemia and cancer victims when there's nothing wrong with you until they're hijacked from you by another faker. Then you meet Tyler Durden, a man that shows you that not only can you live without material needs but that self-destruction, the collapse of society and making dynamite from soap might not be such a bad idea either"

Fight Club

Monday, May 22, 2006

You are one of God's mistakes















Hoje: V série, desta grande série.

Negra. Profunda. Belissima. Cheia. Olhares. Vida. Morte. O outro lado. Todos os lados. Nossos. Familia. Dores. Amor. Droga. Alucinação. Saudade. Cinzenta.Sonhos.
Diálogos. Psicologias. Tretas. Carinhos. Paisagens. viagens. Ao centro. De nós.
Filhos. Amantes. Artistas. Loucos. Morte.
Outro lado.
Seis palmos. De terra.Serão sete?
Sejam.
palmos. De morte.

Ouvir:

"You are one of God's mistakes.
You crying, tragic waste of skin.
I'm well aware of how it aches.
And you still won't let me in.
Now I'm breaking down your door,
to try and save your swollen face.
Though I don't like you anymore
you lying, trying waste of space.
Before our innocence was lost
you were always one of those blessed with lucky 7s,
and the voice that made me cry.
My oh my.
You were mother nature's son.
Someone to whom I could relate.
You're needle and your damage done,
remains a sordid twist of fate,
now I'm trying to wake you up,
to pull you from the liquid sky.

Cause if I don't we'll both end up with just your song to say goodbye."

Placebo

Thursday, May 18, 2006

Mumemo...por um momento.















Apadrinhar uma criança de Mumemo (Maputo). http://mumemo.100free.com/apadrinhar.html .



No seguimento de anterior post em que carpidava o mal do mundo, a apatia de todos nós relativamente ao que se passa no continente africano em geral e em Darfur em particular,

Tendo em conta que, mesmo sem partir para Angola ou Moçambique, podemos deixar de lado um pouco dessa tal letargia e ajudar, de facto, algum menino perdido nesse continente imenso ( em beleza, em dimensão e em desgraça...)

Porque, cada dia que passa urge em mim a necessidade de fazer algo,
Porque se podermos iluminar um pouco a carinha de um pequenino, se podermos lançar-lhe um beijo , mesmo de longe, mesmo sem o afecto dos tactos, dos cheiros, do abraço,


Porque se este meu blog servir, para ao menos um de vocês, abraçar esta ideia, então não haverá nenhum post que tenha valido mais do que este, e neste espaço, a minha missão será cumprida.

Peço-vos ajuda, um acto solidário, um altruísmo, uma mão, um pedacinho do vosso tempo, um fragmento de vós que pode ajudar um menino a cumprir um sonho, o sonho único de ser menino.

"A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas

Age como um deus doente,
mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer”

Alberto Caeiro

Apadrinhar uma criança de Mumemo (Maputo). http://mumemo.100free.com/apadrinhar.html .

Obrigada à Sea que me deu ontem este “presente” em forma de post.

Fto: sebastião salgado.

Wednesday, May 17, 2006

Filho


Nasci-te























"No meu ventre de mulher cresceu teu feto
e foi a minha boca que te deu palavras e silêncios para tu gritares

Dos meus braços multipliquei teus braços e dei distâncias para tu voares
Dei-te tempos-de-nada medidos de coragem

E foste. E és."

Maria Teresa Horta

Monday, May 15, 2006

Old















When You are Old


"WHEN you are old and gray and full of sleep

And nodding by the fire, take down this book,

And slowly read, and dream of the soft look

Your eyes had once, and of their shadows deep;



How many loved your moments of glad grace,

And loved your beauty with love false or true;

But one man loved the pilgrim soul in you,

And loved the sorrows of your changing face.



And bending down beside the glowing bars,

Murmur, a little sadly, how love fled

And paced upon the mountains overhead,

And hid his face amid a crowd of stars."



W. B. Yeats

Friday, May 12, 2006

DARFUR


















Somos uns merdas.
Comezinhos, preocupados diariamente com o nosso umbigo. Imbuídos em crises amorosas, em deambular por centros comerciais em busca do ultimo modelo da Lancel, a criticar a barriga obscena do vizinho do lado, o gajo que cospe para o chão, o penteado out of fashion da gaja do 1º Dto.
Criticamos o Governo que temos, as medidas tão impopulares como precipitadas, como o fecho das maternidades, o aumento da carga fiscal, a construção da aberração OTA, a vergonha do Caso Casa Pia, as demoras/ incoerências e injustiças nos casos de Entre os Rios, Fátima Felgueiras, etc, etc.
Somos uns merdas.
Não que os assuntos em causa não mereçam o nosso olhar atento. Não que a critica ao vestido da vizinha e a busca de um pouco de futilidade não mereça a perda do nosso precioso tempo. Não nada disso.
Também me revolta que uma mulher tenha de ir ter um filho a Espanha porque neste país de interesses, corrupções e verdades torpes, a politica serve apenas interesses particulares ao invés de, como é sua missão, servir o povo.

Também eu me embrenho nas minhas futilidades, nos meus vestidos, nos meus vícios.

Também eu tenho as minhas idiossincrasias , os meus vazios de alma, as minhas lágrimas de crocodilo, os meus alheamentos.

Mas porra, está gente a morrer. Aos milhares, num canto chamado de Darfur.
À gente que não sabe o que é um copo de leite, um cobertor, um medicamento, um simples consolo.
Há mães no corredor da morte, com plena consciência que nesse corredor da morte padecerão não apenas elas, mas os filhos que carregam no ventre, no colo, no coração.
há retratos de morte anunciada. Sem lugar à esperança.
Com doença, com epidemias, com choro, com fome, com tudo o que pode existir no nada.
Há pais, e mães, e filhos, e irmãos, que clamam por um olhar. De nós. Todos nós.
Pedem pouco de nós. Muito pouco, para quem, como todos nós, tem tanto.
O olhar já sem espaço para as lágrimas, o sorriso morto pela fome, o gesto apagado pelo desespero, têm a cor de África, têm o cheiro dos detritos onde vivem, têm a fraqueza da imensidão daquele continente.
Vamos fingindo, vamos esquecendo.
Estão tão longe.
Estão tão longe de tudo o que alguma vez sentiremos.
Somos todos uns merdas.
E por cada palavra que escrevo, ao meu lado sente-se um inextinguível grito de dor.

Ecoado.
De uma mãe que, naquele corredor feito de pó e calor, se deixa adormecer.
Somos uns merdas.
Há crianças de olhos de um castanho único, de pele negra, enrugada pelo sol, enrugada pela magreza.

Está tão longe...
Há crianças... com tudo o que pode existir no nada.
Somos....



A visitar: http://www.darfurgenocide.org/

Wednesday, May 10, 2006

River


Amanhã, canal um, tardissimo como mandam as audiências, um filme imperdivel, com a majestosa interpretação de Sean Penn e Tim Robbins.



"Jimmy Markum (SEAN PENN), Dave Boyle (TIM ROBBINS) and Sean Devine (KEVIN BACON) spent their days playing stickball on the street, the way most boys did in their blue-collar neighborhood of East Buckingham. Nothing much ever happened in their neighborhood. That is, until Dave was forced to take the ride that would change all of their lives forever.
Twenty-five years later, the three find themselves thrust back together by another life altering event – the murder of Jimmy’s 19-year-old daughter. Now a cop, Sean is assigned to the case and he and his partner (LAURENCE FISHBURNE) are charged with unraveling the seemingly senseless crime. They must also stay one step ahead of Jimmy, a man driven by an all consuming rage to find his daughter’s killer."




Mystic River site.

Tuesday, May 09, 2006

If

"If freckles were lovely,
and day was night,
And measles were nice and a lie warn't a lie,
Life would be delight,
But things couldn't go right
For in such a sad plight
I wouldn't be I.
If earth was heaven and now was hence,
And past was present,
and false was true,
There might be some sense
But I'd be in suspense
For on such a pretense
You wouldn't be you.
If fear was plucky, and globes were square,
And dirt was cleanly and tears were glee
Things would seem fair,
Yet they'd all despair,
For if here was there
We wouldn't be we."

e.e. cummings

Monday, May 08, 2006

Gastronomia





Cozinhar é um acto de amor. Uma arte. Um deleite.

Cozinhar é hobbie e profissão, é necessidade e fuga, é trivial ou refinada, é intima ou serve o festim.

Cozinhar é arte para quem faz, arte para quem vê, arte para quem prova, arte para quem sofregamente se deleita, refastela, saboreia.

A propósito de um "jantar com Vitor Sobral". Sem palavras. Com muito deleite, que a carta não era para menos. A arte ficou demonstrada e simpatia não denunciava o titulo de Comendador.

A cozinha tradicional portuguesa na sua versão nouvelle cuisine.

Divino.

Sunday, May 07, 2006

Porque sou mãe e filha



porque a minha vida cabe toda na imensidão do teu sorriso, meu filho, Francisco.

Com um beijo de amor eterno à minha mãe.

POEMA À MÃE


2No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coraçãoficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite.
Eu vou com as aves."

Eugénio de Andrade




Obrigada filho pelo lindissimo colar feito de massa de cotovelos...

Friday, May 05, 2006

Disposições e decisões.

Depeche Mode EU VOU!
























Ouvindo: Smack My Bitch Up
com esta banda sonora a petição incial vai sair capaz de "aniquilar" qualquer senhor magistrado.
às vezes é bom trabalhar.

Live With Me



Amanhã, rtp 2, massive attack, collected.

Seguido de : Mutantes, teresa villaverde

Thursday, May 04, 2006

Phillipe Glass (ouve-se)

Não.
Não me perguntem nem nada nem porquê.
Estou triste.
Assim. Serenamente triste.
Sem razão aparente.
triste apenas.
Não me perguntem nada.
Se nada posso dizer da tristeza que sinto.
Esta da saudade misturada com tudo.
Esta do disfarce.
Esta tristeza mascarada.
Não.
Não me perguntem nada.
Porque nada posso dizer.
Um folego perdido.
Já sem vontade de chorar.
Secalhar já nem saudades sinto.
Esta tristeza presente.
Uma parte de mim amputada.
Essa parte que por aí anda.
Em silêncio.
De quem não sei nada.
um parte de mim.
Parte amputada
Apenas.
Um tristeza, que nem sei se é saudade.
Não me perguntem nada.
às vezes sinto falta.
E é tristeza que sinto.
Mais nada.

Wednesday, May 03, 2006

grito



"Creio no incrível,
nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro.

Ámen."


NATÁLIA CORREIA, Sonetos Românticos (1990).
Foto: sebastião salgado

To bring you my love

" was born in the desert
I been down for years
Jesus, come closerI
think my time is near
And I've travelled over
Dry earth and floods
Hell and high water
To bring you my love
Climbed over mountains
Travelled the sea
Cast down off heaven
Cast down on my knees
I've lain with the devil
Cursed god above
Forsaken heaven
To bring you my love
To bring you my love
To bring you my love
To bring you my love"

PJ harvey

Para ti.
E diz lá que não tou girissima.?

Tuesday, May 02, 2006

Porque este também é um baby blog



O amor maternal tem destas coisas. Exacerbado, egoista.
Ao ponto de, por vezes, desejar que o tempo pare. Para que não cresças e te possa dar colinho e beijos e conforto e abraços para a vida inteira. Para manter o teu sorriso, para te levar à gargalhada com as brincadeiras no banho, para te poder ler Noddys ao deitar, para te explicar quem somos, de onde viemos, o que é a vida, o que é a felicidade, o que é o amor que une os teus pais, o que são os sonhos, o que é este sentimento inadjectivável que sinto por ti.

Eras assim, quando estavas dentro de mim.
E crê, apesar das contradições deste amor de mãe, nada é mais mágico do que ver-te crescer.



"Por que creceste, curuminha
Assim depressa, e estabanada
Saíste maquilada
Dentro do meu vestido
Se fosse permitido
Eu revertia o tempo
Pra reviver a tempo
De poder
Te ver as pernas bambas, curuminha
Batendo com a moleira
Te emporcalhando inteira
E eu te negar meu colo
Recuperar as noites, curuminha
Que atravessei em claro
Ignorar teu choro
E cuidar só de mim
Deixar-te arder em febre, curuminha
Cinquenta graus, tossir, bater o queixo
Vestir-te com desleixo
Tratar uma ama-seca
Quebrar tua boneca, curuminha
Raspar os teus cabelos
E ir te exibindo pelos
Botequins
Tornar azeite o leite
Do peito que mirraste
No chão que engatinhaste, salpicar
Mil cacos de vidro
Pelo cordão perdido
Te recolher pra sempre
À escuridão do ventre, curuminha
De onde não deverias
Nunca ter saído"

Chico Buarque

Monday, May 01, 2006

Silêncio

Já dizia Eugénio de Andrade que o silêncio era a sua maior tentação. O silêncio - fuga às palavras vazias, ocas, perdidas, gastas.
O silêncio feito casa onde nos escondemos, para onde fugimos.
Das pessoas. Sobretudo das pessoas. Desta aflição de um dia chorarmos, no outro sentirmos saudade e pior um dia deixarmos de sentir o que quer que seja.Deste esquecimento que apaga os afectos, desta inércia que dá espaço ao tempo para apagar a memória.
E o silêncio toma forma. e tudo fica por dizer. E as felicidades deixam de se partilhar e os afagos deixam de se oferecer, e a mão há muito deixou de se dar.
O silêncio é uma tentação. O silêncio apaga as más memórias. O silêncio é hoje a minha maior tentação. Para esquecer as lágrimas que já deixei de chorar, para esquecer que há alegrias e medos que deixei de poder desabafar.
O silêncio não dá espaço à memória. O silêncio apaga um pouquinho de nós.
O silêncio não separa, não exaspera, não trantorna, não magoa, não litiga, não clama, não chora, não aparta.
No silêncio, às vezes, podemos sonhar.