Sunday, October 31, 2004

Menina

menina Posted by Hello


Um dia o meu retrato visto pelos olhos do meu filho será algo semelhante a isto. E nesse dia, com o orgulho de mãe emoldurarei o referido retrato no local mais visivel da casa. e mostrarei o retrato a todas as visitas, e falarei dele a todas as amigas e apressar-me-ei em telefonar aos meus pais a contar-lhes todos os pormenores.

Um dia, o meu filho virá orgulhoso para casa com o retrato da sua mãe, e vai-me fazer recordar o dia em que também eu pintei o retrato da minha mãe. Sei que, invariavelmente fiz acompanhar a minha masterpiece de um ramo de flores arrancadas à varanda da vizinha. O desenho já não existe, mas a memória perpetuou-se na ternura que o meus pais revelam quando falam dos desenhos que eu fazia deles.

Um dia, vou ter um retrato assim. De cabelos soltos ao vento ( muito vento...), cheia de cores e com rimel mal posto, com baton de cor duvidosa e roupa sem grife. Serei gorda e desproporcional e no entanto vou achar-me a mulher mais bela do mundo.
Um dia que já hoje me faz sorrir.




Thursday, October 28, 2004

Eterno



eterno Posted by Hello

É assim o sentimento em cinema paraiso.
A mim, tal como a muitos, as lágrimas continuam a inundar-me os olhos na cena final.


Wednesday, October 27, 2004

Fronha

Hoje preciso de sonhos, e de fronhas e de beijos. Preciso do sorriso do meu menino e do abraço do meu amado. Hoje preciso do olhar do meu cão e da ternura de uma embalo que sinto que hoje não vem.
Há dias assim...



"Sonhos da menina
A flor com que a menina sonha
está no sonho?ou na fronha?
Sonho risonho:
O vento sozinho
no seu carrinho.
De que tamanho seria o rebanho?
A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .
Na lua há um ninho
de passarinho.
A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?"


Cecilia Meireles


Sesta

Ontem deitamo-nos juntos.
Já tens a expressão de uma pessoa crescida, já dás gargalhadas. Já te encostas a mim com ar malandro pedindo mimo.
Deste-me festinhas à tua maneira e, a pouco e pouco, chuchando no teu polegarzinho ias fechando os olhos. Emitias sons ternurentos enquanto olhavas para mim.
A tarde estava chuvosa e o barulho do vento trespassava as janelas.
Ontem ao teu lado meu Francisco, sentindo a tua respiração, naquela sesta que só tu dormiste, fizeste-me sentir rainha. Sem saberes, meu amor pequenino, deste-me ontem uma prenda que jamais esquecerei.
Cada dia teu uma surpresa, cada dia contigo um milagre.
A tua maozinha pequena na minha cara, Francisco....que bom ser tua mãe, meu digui de olhos azuis...


Aos leitores, o meu pedido de desculpas pela piroseira maternal, mas hoje apenas este pensamento me ocupa a cabeça.


Monday, October 18, 2004

Chuva

A chuva é triste porque nos faz lembrar quando éramos peixes.


RAMON GÓMEZ DE LA SERNA


Tuesday, October 12, 2004

Ausencia

Depois de oito dias de ausência em terras de Angola o pai do meu filho voltou.
A solidão é uma coisa tramada. Além da solidão, esta coisa de se ter de tratar de um filho sozinha é a tarefa mais dura que já vivi. Não, não me estou a armar em Castelo- branco-não-me-toques-que-uso-luvas-channel, mas sim a desabafar todas as tormentas acumuladas ao longo de oito dias na companhia de um bebé de 9 meses e de um cão de dois anos que mais parece outro bebé-carente-melga, de 9 meses também.
Acordo de manhã, visto o rapaz que não pára de rolar pela cama e anda de cu para o ar cheio de cócó enquanto eu caço os toalhetes que entretanto ele mandou para o chão. Coloco a fralda após inúmeras cambalhotas. Qual circo Cardinalli, consigo enfiar uma manga da camisola e depois outra. Os sapatos ficam para depois. Prepara biberão. Dá biberão. Calça sapatos. Põe barrete. Coloca no carrinho. Aperta o cinto. Rua.
Tomamos café. Tira do carrinho. Coloca na cadeira do carro. Aperta os cintos. Cadeira está a ficar pequenina. Creche. Tira do carro.....

Vamos para o trabalho. Saímos do trabalho. Pingo Doce. ...cerelac, leite, iogolinos, danoninhos...inhos...inhos...inhos....

Vamos buscar à creche. Põe no carro. Aperta o cinto. Cadeira está mais apertada ainda. Garagem. Tira do carro, põe no carrinho. Jardim.....

Voltamos do jardim. Parque. Gatinhar. Olha a esquina, olha o cesto, olha as tomadas. “Sai daí cão” Kafka, sai!!!!!!!!!!!!!” já caiu, bate com cabeça. .....”ulá ulá não foi nada, anda olha o cãozinho, anda CÁ CAOZINHO, DÁ BEIJO AO BEBÉ”. Cão LAMBE, limpa a baba do cão no bebé. Bebé ri. Parque.
Prepara o jantar. Mói a fruta. Telefone toca. Deixa tocar.
Prepara banho. Pijama, patinhos, espuma, shampoo, toalha, cotonetes, loção de massagem...
Vai para o banho. Brincar. Brincar, mergulha sem querer. Olha o patinho!!! “Não foi nada, não foi nada”.
Tira da água. Limpa, massaja. Veste. Mexe-se, mexe-se volta-se, volta-se. Epopeia de vestir.
Acaba jantar. Sopinha já vem. Papa tudo. Arrota. Caminha.
Umas canções, umas brincadeiras, levanta-se, deita-se, senta-se. Toca o telefone. Deixa tocar.
Cão gane. Não vai à rua hoje. Que faça no terraço, meu cão amado de olhos tristes. “Tens saudades do dono, não É? Também eu...toma um paté..”
Bebé levanta-se, bebé ri, bebé cai, bebé chora, bebé chucha, bebé leva mais beijos...
São dez da noite. Devia ir lavar o cabelo, devia ir arranjar as unhas, devia ir enviar aquele e-mail urgente, devia ir jantar. Prepara comida para amanhã. Mais uma hora de cozinha. Devia ir tomar banho, arranjar as unhas, jantar...
Abandono-me no sofá. Vejo o que mais me embrutece. Adormeço. Vencida.
Cão chora...cão não vai à rua, “toma lá mais um biscoito”.
Vamos jogar à bola lá fora. Jogamos.
Cão adormece. Bebé acorda. É uma da manhã. Prepara biberão.
Devia jantar....
Bebé muda fralda, bebé toma vitamina.
Deito o bebé.
Dá-me um sorriso.
Fico alí a vê-lo adormecer. Tranquilo.
Lindo.
Olhos rasos de lágrimas. Saudades tuas, muitas saudades tuas.
O teu filho é a tua cara.
Olho mais uma vez para o nosso filho.
Olhos rasos de lágrimas.
Como foi possível termos um filho assim.
Saudades tuas. Devia jantar...

Friday, October 08, 2004

Fotografia

Dia cinzento, ventoso.
Meu filho foi hoje para a creche vestido de menino do coro para tirar as fotografias que depois de ornamentadas se destinarão a prendas de Natal. Antes de a fotografa iniciar o trabalho, tive de retirar o babete, limpar a baba de leite e o nariz ranhoso. Estava lindo o meu filho...senti-me a fazer a figura da minha mãe quando me vestia roupas que eu detestava e me colocava em pose à frente de um chapéu de chuva iluminado.
Hoje, mas uma vez senti que sou mãe, e olhem que muitas vezes ainda me surpreendo com esta realidade....

Vou comprar um cd dos muse.

Poderia falar sobre o pseudo escandalo do Marcelo, mas creio que seria apenas especular. E para especulação já chega.


Hoje apetece-me mesmo é ouvir muse e lembrar-me da cara do meu filho todo compostinho a posar para a fotografia. Podia ficar eternamente a relembrar esses segundos.