Tuesday, October 31, 2006

Love's a bitch

" You know what my grandmother used to say? If you want to make God laugh... tell Him your plans"


Amores Perros


perceber que os debates sobre temas importantes, refiro-me ao aborto, deixam sempre a sensação de que não se falou do mais importante. perceber que o que conta em todas as questões de Estado são as contrapartidas financeiras e toda a gente se está perfeitamente borrifando para dignidade da mulher ( queres dignidade vai lá abortar, ó pobrezinha!). perceber que as mulheres são mal tratadas pela sociedade, tanto hoje, como na Idade Média.
perceber que estamos entregues aos bichos no que concerne à pseudo igualdade entre homens e mulheres. perceber que não ensinam as mulheres, não querem ensinar, não querem cuidar, não querem acompanhar em sede de contracepção, educação sexual e afins. Que na esteira do “corpo é meu”, deveriam falar da eutanásia, e não fazem, apenas porque tal questão não trás qualquer beneficio ao estado. perceber que estamos condenadas a ouvir a menção a “estudos” que são tão falsos como inexistentes. Perceber que não dão condições às mulheres para serem mães. Perceber que o aborto é, sem duvida, a solução mais hábil, indesculpável e negligente que o estado arranja para por fim a uma calamidade que tem no seu cerne a própria omissão do estado. Perceber que sem duvida o corpo sendo nosso, carrega em si algo que não nos pertence. Perceber a hipocrisia...a imensa hipocrisia de tudo isto.

E perceber que detesto a Fátima campos Ferreira, as mamas de silicone, o Malato, os comentadores de futebol, a violência gratuita do telejornal, as falsas noticias, as lágrimas de crocodilo, os intelectuais de esquerda, o eixo do mal, a clara ferrira Alves, a ministra da educação, a Manuela botox moura Guedes e os gritos da júlia Pinheiro.
Este país está pobre. Tão pobre e desamado.
Love's a Bitch.

Os amores perros.Aqui como no México.

Monday, October 30, 2006

choose

"Choose life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television. Choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers.... choose DIY and wondering who the fuck you are on a Sunday morning. Choose sitting on the couch watching mind-numbing, spirit crushing game shows, stuffing junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourself. Choose your future. Choose life.... But why would I want to do a thing like that?"


Isto é sublime.
A imensidão de sentidos e metáforas. A imensidão de descontentamentos, marasmos, frustações e raivas. e o desafio: de escolher tudo o mais.

Friday, October 27, 2006



















Paula Rego


“when sanity visits
for one hour and twelve minutes I am in my right mind.
When it has passed I shall be gone again, a fragmented puppet, a grotesque fool”.

Sarah Kane



O génio sempre deu lugar a alguma “loucura”. E digo loucura no sentido não da “não sanidade”, mas sim na desconformidade aos ditames da normalidade. Os jeitos, o enrolar de mãos, o olhar no vazio, a propensão para a emotividade, a busca continuada de beleza, a capacidade para encher a memória de tal forma que esta transborda afectos.
Esta é a loucura de que gosto. A loucura em que me deito e me conforto. Esta é a loucura que admiro. Por vezes em mim, inúmeras vezes nos outros.
Os rabiscos das crianças, os gritos , a inexistência de pudores. A forma exacta de dizer a verdade. O arrojo de sorrir ao próximo. O concubinato com a terra.
A cor.
O génio e a loucura misturam-se e raro é o génio que dela não “padece”. sã, mas ainda assim perfeitamente cognoscível.

“Os psicóticos são espantosos, dizem frases espantosas, estou-me a lembrar de uma que era «aquele homem tem uma voz de sabonete embrulhado em papel furtacores». Isto é uma frase do caraças”.

António Lobo Antunes. Prodigioso na entrevista de ontem no canal 1. Sem pruridos, sem arrogância. Com a espírito um pouco além. Por isso mesmo.


Thursday, October 26, 2006

























Brenda:
You know what I find interesting? If you lose a spouse, you're called a widow or widower. If you're a child and you lose your parents, then you're an orphan. But what's the word to describe a parent who loses a child? I guess that's just too fucking awful to even have a name"

Six feet under

Monday, October 23, 2006

Aborto


























A interrupção voluntária da gravidez arrepia-me.
Arrepia-me porque significa por termo a uma vida. E não me venham dizer que ela não existe, porque eu já a vi. Às sete semanas de gestação estava lá. Pulsante, ritmada numa cadencia de batimentos certos, apressados, humanos, fetais.
Um Estado simplesmente demissionário no que concerne a apoio social, planeamento familiar e acompanhamento médico, vem agora com a solução mágica: despenalizar!.
E eis que se faz luz: Os nossos serviços de saúde, sempre tão céleres, sempre tão aptos, sempre tão ágeis, sempre tão cordiais com os seus pacientes, sempre tão acolhedores, sempre tão libertos, vão dar resposta às IVG até às 10 semanas.
O Estado que encerra maternidades por falta de obstetras e pediatras, coloca-se ao dispor das mulheres, com todo o pessoal médico e toda a organização necessária, para proceder às ivg que lhe sejam solicitadas.
O Estado que doravante irá cobrar 5 euros diários, situação que significa cerca de 150 euros mensais ( vulgar em inúmeros internamentos), possui, segundo ele, a capacidade para responder, de forma célere e profissional a todas as ivg que lhe apareçam.
O mesmo Estado que não responde a necessidades sociais prementes tipo ajuda a pessoas portadoras de deficiência física/ mental, crianças vitimas de abuso/ órfãos/ abandonados/ etc, etc, etc, terceira idade, exclusão social (erradicação de barracas), construção e apetrechamento escolar/ construção de creches, planeamento familiar, a nível nacional, com fornecimento gratuito de meios contraceptivos, etc, etc, vem agora, como que por milagre, perguntar ao cidadão se este pretende ver plasmada na lei a despenalização do aborto...
O aborto arrepia-me. Pelo choque que é saber que muitas ( nem todas) que a ele recorrem, o fazem por não terem de facto outra solução. Por saber que o farão em condições miseráveis, por saber a hipocrisia que é o facto de o aborto ser penalizado, por não entender como se pode julgar alguém que praticou um aborto porque não tinha acesso a meios contraceptivos, por saber que muitas meninas de catorze anos, se estivessem devidamente esclarecidas, não teriam tido um comportamento de risco , por saber que muitas das mulheres que o praticam (ou deverei dizer são sujeitas....?) choram muita lágrima por perceberem que acabaram de matar o filho que carregavam no ventre...por saber que muitas dessas crianças, se tivessem dado o grito da vida, poderiam ter sido felizes, por saber que muitas dessas mulheres desejavam ter tido o filho a quem negaram o direito de nascer.
O aborto é chocante por todos os prismas. Nem sequer vou falar da questão religiosa, pois a Igreja, na minha opinião, deverá, atenta à sua “politica” contraceptiva, estar bem caladinha e envergonhar-se pelos seus ensinamentos. Mas o aborto é por si só chocante.
Porque ao contrário da eutanásia, em que está em jogo apenas a vida daquele que quer a morte, no aborto está em jogo a vida de um terceiro.
Porque a questão da responsabilidade, coloca-se não só à mãe, como ao pai, como a toda a comunidade politica, médica, familiar, social.

Porque a consciência pesará sempre. Porque ele poderia ter sido feliz. Estou certa que poderia ter sido feliz, e nós, todos nós, vamos dar-lhe uma sentença de morte...negar a possibilidade...a mera possibilidade...
Tudo isto me arrepia.


PS: no ultimo referendo, votei sim. No próximo votarei sim. Com um aperto no peito e com a raiva de perceber que vou dar cobertura ao Estado que tanto critico...abrindo portas à sua mediocridade, à sua desatenção, à sua letargia, ao seu desafecto...
Creio profundamente que o interesse económico inerente a esta questão é uma causa que muito pesa na nova abordagem desta questão...pelo Governo, leia-se.

Friday, October 20, 2006

Somente ternura























O meu filho diz que tem uma namorada. Dois anos e 7 meses e diz que tem uma namorada. Margarida, Guida, de seu nome.
Ao que parece, contudo, a Margarida é namorada do André, e a namorada do meu filho é a Maria.
Sempre que chego à creche, de facto, ele está com a Maria.
O meu filho anda-me a mentir.
Mas ao que parece tem uma namorada.

E não sou eu.



"Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitose frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiamos sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços".

Eugénio de Andrade

FOTO: WORLD PRESS PHOTO


A VER:
http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4


Thursday, October 19, 2006

Gosto e não gosto






















As extensões de cabelo, são um claro sinal de que as pessoas já não sabem ou não querem esperar por nada.
Além disso são manifestamente de mau gosto. Sei lá, assim do tipo capachinho.





Para ouvir enquanto chove: Seu Jorge: Changes

Wednesday, October 18, 2006

Madonna e a criança





















Há coisas que me irritam profundamente. A hipocrisia misturada com a burocracia então é demais, especialmente quando estamos a falar de um processo, o de adopção, que, pelo que envolve, não se compadece com anos de espera para uma suposta avaliação cuidada dos pais adoptivos, avaliação esta que, pelo menos no caso português, é feita de forma, na maioria de vezes, senão negligente, pelo menos desastrada, descuidada e desvirtuada( refiro-me, por exemplo, à multiplicidade de técnicos envolvidos, muitos deles mal preparados).

Entretanto a diva da Pop, a saber, Madonna de seu nome artístico, resolveu adoptar um menino do Malaui. O menino em causa, órfão de mãe, teria sido confiado a um orfanato pelo pai. Quid Juris? O tribunal, provavelmente movido pelo facto de a mãe adoptante ser Madonna, concedeu a guarda temporária da criança à referida senhora, pelo período de 18 meses, lapso de tempo em que será avaliado o comportamento e aptidão dos pais adoptantes para adoptarem de facto o dito menino.
levanta-se o Carmo e trindade dos direitos humanos que, numa visão egocêntrica, popularucha e outros adjectivos que me escuso de enumerar, vem considerar a referida adopção ilegal....enfatizo, a adopção ainda nem sequer se deu, mas apenas uma guarda temporária.
Ora porra, meus senhores, revoltem-se antes contra a burocracia dos tribunais e da assistência social que demovem os pais a adoptarem, revoltem-se contra os processos que de tanto tempo que levam fazem com que as crianças passem a sua infância em orfanatos ao invés de a passarem no aconchego de um lar, revoltem-se contra as carências dos orfanatos, revoltem-se contra os pais biológicos que nunca o deveriam ter sido pelos maus tratos indizíveis a que sujeitam os seus filhos, mas por favor não cometam a imprudência de, movidos pela necessidade de protagonismo, colocarem em causa os valores que provavelmente levaram à presente decisão...a celeridade do processo e o eventual salto sobre ditames burocráticos não terá como fim o interesse da criança?...ou será que, pela mãe adoptante ser Madonna merecerá menor crédito em razão da pseudo falta de atenção que dedicará ás crianças...??

A dissimulação choca-me.
defender defender e exultar é preciso, mas apenas para o que é digno de merecer um grito.


Monday, October 16, 2006

Exit


























È preferível nem ver, muito menos sequer olhar. Perceber que existem. Esfomeados, necessitados, sem nada. Os sem nada.
Gostaria de não me lembrar deles, de não os ter na memória. Gostaria de os poder ajudar, de intervir, de fazer algo, de lhes dar voz, de os adoptar, de os acolher, de os mimar. Dar-lhes o pão e a vacina, o lençol lavado, o cobertor, a fruta, a cerelac, o banho quente, o brinquedo e os ténis. dar-lhes o mimo e a educação, o futuro e o sorriso.
Todos se esquecem, todos falam, todos olham, poucos vêm. Alguns fazem.
Está a chover. É apenas isso, está a chover cá dentro. Como um carpido de alma.


Exit Music, Radiohead.

Monday, October 09, 2006

Instante




















A minha felicidade está aqui,
Vem da tua imensa leveza,
Dessa beleza,
De te ver criança
E de brincar contigo.
criança também
A felicidade está toda aqui.

Instante.