Tuesday, August 21, 2007



Estupidamente vagueio. Fútil e irreflectidamente.
Vagueio como quem não quer pensar.
Flutuo nas palavras. As dos outros. as minhas estão gastas, esgotadas ou esquecidas.
Vagueio pela saudade e pela letargia. Oca. Consumida.
Sentir o toque da areia nos pés. A brisa do mar e repousar. Apenas um pouco.

Deixem-me deixar de sentir. Apenas um pouco.
Vagueio, como quem vive.

Tuesday, August 14, 2007

As Crocs


Surpreende-me ver pessoas que considerava serem donas, pelo menos, de algum bom gosto, envergando a sandalucha mais horrenda do planeta, aquela que dá pelo nome de Crocs.
Não entendo esta paixão pelo mau gosto, pela desproporção de tamanho, cor, salto, forma. São medonhas, pavorosas, horrendas.
Já as havia visto, há anos, no Oprah show. Está tudo dito. Apareceram na Oprah!.
Ainda que fiquem razoáveis nos pés dos putos, especialmente quando vêm da praia, prefiro as normais sandálias de “peixe aranha” que já eu usava quando era miúda. Compravam-se na praia por módicas quantias. Hoje, após muita busca, consegui arranjar umas, para o meu pequenote, na Bebé Confort, por um preço obsceno. Secalhar deveria ter comprado umas Crocs, mas sinceramente, não queria ver o meu filho com aqueles pés enormes, feios, quase indecorosos.
Não entendo esta moda.
Não entendo o detrimento total da estética em nome do conforto, isto partindo do principio que as Crocs são confortáveis.
Ver uma família, de pai barrigudo, mãe descuidada e putos supostamente bem vestidos, envergando, todos eles, Crocs de cores diversas, é neste Verão Português, o meu maior pesadelo. E por mais que os veja passar, não consigo deixar de ficar pasmada ante tal fenómeno.
Em suma Abomino Crocs.

Friday, August 03, 2007

Até o conhecer, juro, não me queria casar.
Queria ter um filho, apenas um, pois na altura, acreditava que um era quanto bastava. Recusava o casamento. Achava ridícula a questão do papel, a contratualização dos sentimentos, o deve-haver, o facilitismo do casa –descasa, a papelada, a burocracia, a mudança do B:I.
Mais que tudo, atordoavam-me aqueles que gastavam fortunas em festas nas quintas da regaleira, copos de água para amigas que apenas sabem dizer mal e vestidos pseudo brancos que, salvas raras excepções, caiem irremediavelmente na alçada do ridículo.
Sempre detestei os casamentos de Agosto, banhados a espumante murganheira a acompanhar o bacalhau com natas e a carne de porco com recheio de tâmaras.

Mudei.
Houve um momento em que deixou de fazer sentido o “ajuntamento”.
Ou bem que era namorada, ou bem que era mulher. Que é isso de “junta”? Juntar-me, juntava-me com uma colega se tivesse feito um erasmus, juntar, juntava-me nas férias com o namorado pelo período de 30 dias, não mais.
Juntar é tudo e também não é nada.
Juntar é acreditar no amor, experimentar a rotina, acordar e adormecer com o homem que se ama...mas juntar é ouvir dizer-se “minha mulher”como quem sussurra, mente, altera, adultera.
Juntar, é não ter espaço para as visitas hospitalares. Juntar é não ser cabeça de casal, não ter direito a transmissão de arrendamento ( não em moldes iguais ao dos cônjuges), não ter direito a pensão de alimentos (não em moldes iguais ao dos cônjuges)...juntar é ter os direitos plasmados num diploma de uma página, não alvo de regulamentação especifica.
Juntar é tudo e nada.
É acreditar no amor...tudo e nada.
Minha mulher, meu marido é uma mentira que se diz, apenas porque se acredita que assim é. A base é o amor.
Um dia mudei.
Porque gosto da lei, de a analisar, respeitar e obedecer.
Porque acredito no amor, de per si, mas também no amor que, aos olhos da sociedade na qual nos inserimos, é visto como um amor aceite por ambos, abraçado por ambos.
Um dia mudei. Porque um dia viriam os filhos e porque os filhos, como nós, estão inseridos numa sociedade que não admite, tão pouco acolhe, aqueles que não se querem guiar pelos tramites que ela traça.
Estar junto, não é estar casado, mas estar casado é sobretudo estar junto.
Em tudo, hoje casada, como antes, junta, acredito na base emotiva do casamento. No laço do afecto, do carinho, do respeito, do sexo, do esperado infinito amor e da cooperação.
Estar junta, era tudo e não era nada.


Nota: casei num ambiente discreto, tendo como convidado o meu filho de três anos, não esteve presente nem a caras nem a flash, não fiz festa na quinta, não fui de lua de mel para as Maldivas, não fui de vestido branco e ele não foi de fato. Uso uma aliança linda, unico elemento tradicional a que me rendi.

Na noite de núpcias fomos para uma Pousada de Portugal. O nosso filho também. E foi muito bonito.
Estar casada com ele é tudo.