Friday, December 21, 2007

Natal





Aproveitem a quadra. Comam muitos sonhos. E sonhem. Comam filhoses, cabrito, peru e arroz doce, leite creme, chocolates, troncos de Natal e lampreia de ovos. Esqueçam as dietas, os diferendos, a crise, a constipação, a inflação e o spreed do empréstimo. Lambuzem-se. Esperem pelo Pai Natal, acreditem no Pai Natal. Acendam uma vela junto ao presépio e deixem as crianças acordadas até às duas da manhã. Exteriorizem, beijem e abracem. Criem ilusões e memorizem o olhar dos vossos filhos. O encanto, a intensidade. De acreditar. E afaguem os vossos pais, dêem-lhes conforto, ternura e uma casa quente. E apreciem o relógio, o perfume, o pijama, as meias, o bibelot do cãozinho, o livro de culinária, o romance do Paulo coelho e o disco do pavarotti. apreciem, mesmo quando nada daquilo é digno de apreciação.
E esqueçam que não gostam daquele e do outro. Reparem apenas nos que amam. E transbordem ternura. Esqueçam o trabalho e o dinheiro que gastaram. Gozem a noite, a silent night, o natal dos hospitais, e o filme da rtp 1. Oiçam as “mais belas canções de natal” pela enésima vez. Mas aprisionem a quadra no vosso coração, vivam, percebam o quão bom é estar assim. Com tudo isto que pode ser o Natal. E recordem. Tirem fotografias, mas sobretudo guardem cada segundo daquela noite.
Ahh, e façam-me um favor: brinquem.Muito.


Bom Natal.

Monday, December 17, 2007

Adoro Homens - Parte II


E se me embalasses_______________________ hoje?


"I don't wanna be your friend
I just wanna be your lover
No matter how it ends
No matter how it starts
Care about your house of cards And I'll deal mine"


Radiohead - House of cards

Thursday, December 13, 2007

Adoro Homens




Fazem-me aflição as gajas ressabiadas. Não que não haja gajos ressabiados, mas nada pior do que a gaja.

A Gaja cujo marido se esqueceu dela porque tem uma secretária com ares de scarlett johansson, ou porque gosta de assistir de fio a pavio a tudo o que dá sport tv enquanto devora bejecas e coirato.
Há diversos estilos de ressabiada.
A ressabiada, desgraçada que se levanta às 6 da matina para tratar dos filhos e das marmitas para depois apanhar o 46 rumo ao rossio onde limpa as cadeiras dos senhores do terreiro do paço, para depois voltar a um lugar a que chamam lar. Voltar, fazer jantar, arrumar e passar a ferro, para depois ainda ter de levar uma rapidinha do esposo, outrora o seu príncipe encantado, hoje o gajo barrigudo com barba mal feita, travo a álcool e uma mão cheia de desamor.
No oposto, a gaja rica, loira, esticada e bem vestida.
Passa os dias entre amigas, chás e spas, montada num audi com que desafia as demais gajas na auto estrada. A gaja que passa à frente de toda a gente nas filas, que entra no dentista para colocar umas facetas as quais, ninguém , excepto ela, apreciam. A gaja das extensões, dos visons, dos channeis, das viagens a Moçambique, dos filhos a quem trata com o devido distanciamento do "você". A gaja, carrancuda, de mal com a vida, de mal com o acordar, do adormecer no nada. As gajas que não sabem dar ou abraçar, que creio nem souberam o que foi parir, as gajas que não gemem enquanto fazem amor, as gajas que limpam os lábios apenas nos cantos não vá o gloss lâncome esvaziar o colorido sensual da sua boca. As gajas ibérico nogueira, altivas e vazias,
desocupadas e desentendidas, entediantes, incompreendidas..
Depois temos as trintonas, as que podem oscilar entre todas as classes sociais. As piores das ressabiadas, as ressabiadas que fingem não o ser. As separadas, as solteiras mal dispostas, as senhoras mal casadas. Zangadas com a vida, zangadas com os homens.
Em todas elas, existe um ódio visceral pelo sexo masculino, senão mesmo pelo sexo de per si. Em todas elas o mesmo ar indisposto, prestes a vomitar. Em todas elas a arrogância que esconde o desejo de amar, de ser amada. De querer e de ser desejada. Em todas elas o declínio, a falta de vontade de realizar, de encontrar, de sorrir, de abraçar.
Em todas elas a plangência infinda e o abandono das quimeras.
Fazem-me aflição as gajas ressabiadas.

De todas apenas me comovem as primeiras. Assim são por inexistência de escolha.

as outras são apenas mal fodidas.

...

"A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça."

Alexandre O´Neill

Wednesday, December 12, 2007

Soltas

Natal. E sempre a mesa de Natal da minha mãe. Natal, e sempre o cheiro da comida da minha mãe. Natal, e sempre a mão do meu pai sobre a minha mão. Natal e sempre o Pai Natal da Baixa. Natal e sempre a presença. Natal, e sempre a ausência. Natal e sempre as luzes. Natal e sempre este prazer. Natal. eu acredito. Natal.
natal, e agora tu, meu filho. a acreditar. a memorizar. inscrito na tua memória. o Natal.

Tuesday, December 04, 2007

despojos

Escondo-me. Desde miúda, sempre me escondi. Calo-me demais e falo para esconder. Sinto e amo até doer. Assim sou eu, calada e despida, rouca.