Friday, September 26, 2008

Pink

Há um mês e um dia o cosmos ficou parado. A minha vida contava-me mais uma história e tudo, leia-se mesmo tudo, deixou de ter o peso que tinha até então. Vieste Maria, abraçar a vida, beijar o mundo que doravante tinha a honra de te receber.
Ali ficámos, a cheirarmo-nos, a reconhecermo-nos, a amarmo-nos lentamente, sim porque isto da relação mãe filho não nasce com amor pré fabricado.
E sim, são noites mal dormidas, por vezes nada dormidas, e sim, a mama que é uma chatice, um sacrifício, mas também um momento nosso, um poupar de biberões e esterilizações, uma opção que além de saudável é natural e estupidamente mais pratica. E sim, acho engraçado esse movimento anti mama que tem vindo a aparecer na net, o movimento que se pauta por uma necessidade de libertação feminina que não entendo. E não entendo, porque a partir do momento que escolhemos ser pais deixamos de ter liberdade, porque a partir do momento que engordamos e emprenhamos e parimos sabemos , ou devemos saber de todos os condicionalismos, todas a malditas dores, todo o sangue que nos esvai as entranhas e nos deixa de rastos. E sim, devemos saber que estaremos sempre em noites de vigília, tenham eles meses ou anos, a vida jamais terá a leveza da também maravilhosa idade pré maternal ou pré parental. E sim, porque as
mamas, como as das cadelas, servem para amamentar...natural. tão natural.
Faz-me confusão. esse suposto grito de liberdade ter como resolução o desmame ou o não dar de mamar. Sim, é uma escolha, sem duvida, mas passa também por uma obrigação, uma obrigação inata, tão inata porque decorrente dessa outra escolha, a de ter um filho, com todas as reservas que tal acarreta.
E há um mês e um dia, Maria, venho a amamentar-te, engordar-te, preparar-te para a vida da única forma que neste momento nos é possível.

Maria, escolhi o teu nome por ser o nome mais “limpo”, mais simples. Quis dar-te este nome, Maria, porque o acho grandioso, seguro, afectuoso.
E fez ontem um mês, Maria, vieste ao Mundo realizando mais um sonho meu, mas sobretudo, realizando os teus sonhos que ali começaram.
Que a vida e o mundo te mereçam, minha filha Maria e que saibas sempre ser tão nobre e justa quanto aqueles que admiro. Que saibas o que é ser honesta e divertida, meiga e pragmática. Que saibas amar e ser amada, que te entregues aos teus ensejos. Que lutes. Que vibres. Que sobretudo saibas e tentes, tentes sempre, ser feliz.
Ainda que por breves momentos, Maria, a vida é um cenário maravilhoso. Como aquele milésimo de segundo em que te vi pela primeira vez.

Passado um mês Maria, agora que percebo que a vida continua lá fora, e que o universo afinal não parou de vibrar, deixa-me que te confesse que te amo.

4 Comments:

Blogger PenaBranca said...

assim gosto. benvinda Maria!

4:57 AM  
Blogger Nuno Guronsan said...

Que bonita declaração de amor, PJ... Fiquei sem ar, pois se alguma vez li uma melhor definição do que pode ser o amor incondicional, ela fica muito pálida perante as tuas grandiosas palavras...

A Maria ainda não sabe (pelo menos, não completamente), mas tem uma mulher de M grande como mãe...

Beijos.

1:44 PM  
Blogger Zé Miguel Gomes said...

Saio emocionado pela limpidez do que declaras.

Fica bem,
Miguel

2:51 AM  
Blogger A said...

Não vinha aqui há muuuuito tempo e qual não é o meu espanto por verificar que a tua menina Maria nasceu no mesmo dia que o meu pai José :)

Linda linda declaração de amor.
Possam os nossos filhos ler o que escrevemos quando ainda eram um projecto de vida ou colocavam-nos as lágrimas nos olhos de tanta felicidade ao vê-los crescer.

Não sou mãe mas sou filha e sei que se algum dia a minha mãe me tivesse escrito algo assim, o meu coração pararia.

É bom constatar que alguns Blogs estão "alive and kicking"!!!

Beijos e muitas felicidades

2:46 PM  

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