Wednesday, January 30, 2008

E de subito, esta vontade de falar pelas palavras dos outros...



"E de súbito ficas imóvel assim, instantânea de luz, a boca enorme de alegria e os dentes visíveis de sol, e os olhos rápidos de cintilação. Fica-te assim, oh, não te mexas. Tenho tanto que dar uma volta à vida toda. Não te movas. Sob a eternidade do sol e da neve. Uma malícia súbita no teu riso, no teu olhar. Um clarão à volta de deslumbramento. Irradiante fixo. Não te tires daí. Instantâneo da minha desolação. Tenho mais que fazer agora. Não saias daí. A boca enorme de riso, os olhos oblíquos de um pecado futor. Fica-te aí assim, talvez te procure ainda, talvez te escreva uma carta de amor. Daqui donde estou, está uma tarde quente. De amor. "

Vergilio Ferreira.


Friday, January 18, 2008

Durante anos, fui fervorosa admiradora e compulsiva compradora de musica popular brasileira, designada por mpb.
De Elis a Vinicius, passando por Chico Buarque e Caetano Veloso, todos me impressionavam pela genial forma de colocar em palavras musicadas os sentimentos mais dispares, mormente, por tão bem saberem cantar o amor, a saudade, o sexo, a revolução, a alegria, a cor e a dor.
Chico Buarque, aquele que segundo os demais, melhor sabe cantar os sentimentos femininos, sempre esteve no meu canto especial. A doçura da voz, o verde do olhar, a clareza das palavras. A ópera do malandro, uma obra de arte.
Anos depois desprezei a musica brasileira. Quiçá por conhecer o Brasil, quiçá por ter deixado de padecer de amor, quiçá pela proliferação de musicas fáceis, de letra pimba e vozes apáticas que nos inundam as rádios e nos fazem esquecer essas vozes admiráveis dos poetas da mpb.
Hoje apeteceu-me ouvir musica brasileira.
Da boa.na boa.
Como se o rio de Janeiro fosse apenas um local maravilhoso, feito de chope e menina sambando. Como se não existissem favelas, e mortes, e tráfego e meninos de rua. Como se o Brasil, fosse apenas um calçadão, cocos, mar, paladares, sotaque, poetas e um Cristo redentor.


"Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando, sem mais, nem por quê
Tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz"

olhos nos olhos, Chico Buarque

Thursday, January 10, 2008


Contar-te-ei detalhadamente
o espaço

onde cresci
dormi
dentro de ti


e aquele outro espaço _laço
atado ao coração

Contar-te-ei minuciosamente
o espaço

o aço
do sangue
da saliva e dos ossos


Daquilo que os teus olhos viam
viajavam dentro e se encontravam
desencontravam com os meus

Os teus


Contar-te-ei exactamente
o espaço

encontrando entre as tuas
duas ancas
o embalo do berço

encostada mansamente a escutar o ar
passando em teus cabelos

Contar-te-ei simplesmente
o espaço

sem desejar recordar
esquecê-lo
por onde lentamente desci

passando da obscuridade do sussuro
ao rasgão.

Maria Teresa Horta

Thursday, January 03, 2008


Tenham um bom Ano. Assim. Forte. Com personalidade. Força. Sempre Força.