Ausencia
Depois de oito dias de ausência em terras de Angola o pai do meu filho voltou.
A solidão é uma coisa tramada. Além da solidão, esta coisa de se ter de tratar de um filho sozinha é a tarefa mais dura que já vivi. Não, não me estou a armar em Castelo- branco-não-me-toques-que-uso-luvas-channel, mas sim a desabafar todas as tormentas acumuladas ao longo de oito dias na companhia de um bebé de 9 meses e de um cão de dois anos que mais parece outro bebé-carente-melga, de 9 meses também.
Acordo de manhã, visto o rapaz que não pára de rolar pela cama e anda de cu para o ar cheio de cócó enquanto eu caço os toalhetes que entretanto ele mandou para o chão. Coloco a fralda após inúmeras cambalhotas. Qual circo Cardinalli, consigo enfiar uma manga da camisola e depois outra. Os sapatos ficam para depois. Prepara biberão. Dá biberão. Calça sapatos. Põe barrete. Coloca no carrinho. Aperta o cinto. Rua.
Tomamos café. Tira do carrinho. Coloca na cadeira do carro. Aperta os cintos. Cadeira está a ficar pequenina. Creche. Tira do carro.....
Vamos para o trabalho. Saímos do trabalho. Pingo Doce. ...cerelac, leite, iogolinos, danoninhos...inhos...inhos...inhos....
Vamos buscar à creche. Põe no carro. Aperta o cinto. Cadeira está mais apertada ainda. Garagem. Tira do carro, põe no carrinho. Jardim.....
Voltamos do jardim. Parque. Gatinhar. Olha a esquina, olha o cesto, olha as tomadas. “Sai daí cão” Kafka, sai!!!!!!!!!!!!!” já caiu, bate com cabeça. .....”ulá ulá não foi nada, anda olha o cãozinho, anda CÁ CAOZINHO, DÁ BEIJO AO BEBÉ”. Cão LAMBE, limpa a baba do cão no bebé. Bebé ri. Parque.
Prepara o jantar. Mói a fruta. Telefone toca. Deixa tocar.
Prepara banho. Pijama, patinhos, espuma, shampoo, toalha, cotonetes, loção de massagem...
Vai para o banho. Brincar. Brincar, mergulha sem querer. Olha o patinho!!! “Não foi nada, não foi nada”.
Tira da água. Limpa, massaja. Veste. Mexe-se, mexe-se volta-se, volta-se. Epopeia de vestir.
Acaba jantar. Sopinha já vem. Papa tudo. Arrota. Caminha.
Umas canções, umas brincadeiras, levanta-se, deita-se, senta-se. Toca o telefone. Deixa tocar.
Cão gane. Não vai à rua hoje. Que faça no terraço, meu cão amado de olhos tristes. “Tens saudades do dono, não É? Também eu...toma um paté..”
Bebé levanta-se, bebé ri, bebé cai, bebé chora, bebé chucha, bebé leva mais beijos...
São dez da noite. Devia ir lavar o cabelo, devia ir arranjar as unhas, devia ir enviar aquele e-mail urgente, devia ir jantar. Prepara comida para amanhã. Mais uma hora de cozinha. Devia ir tomar banho, arranjar as unhas, jantar...
Abandono-me no sofá. Vejo o que mais me embrutece. Adormeço. Vencida.
Cão chora...cão não vai à rua, “toma lá mais um biscoito”.
Vamos jogar à bola lá fora. Jogamos.
Cão adormece. Bebé acorda. É uma da manhã. Prepara biberão.
Devia jantar....
Bebé muda fralda, bebé toma vitamina.
Deito o bebé.
Dá-me um sorriso.
Fico alí a vê-lo adormecer. Tranquilo.
Lindo.
Olhos rasos de lágrimas. Saudades tuas, muitas saudades tuas.
O teu filho é a tua cara.
Olho mais uma vez para o nosso filho.
Olhos rasos de lágrimas.
Como foi possível termos um filho assim.
Saudades tuas. Devia jantar...
A solidão é uma coisa tramada. Além da solidão, esta coisa de se ter de tratar de um filho sozinha é a tarefa mais dura que já vivi. Não, não me estou a armar em Castelo- branco-não-me-toques-que-uso-luvas-channel, mas sim a desabafar todas as tormentas acumuladas ao longo de oito dias na companhia de um bebé de 9 meses e de um cão de dois anos que mais parece outro bebé-carente-melga, de 9 meses também.
Acordo de manhã, visto o rapaz que não pára de rolar pela cama e anda de cu para o ar cheio de cócó enquanto eu caço os toalhetes que entretanto ele mandou para o chão. Coloco a fralda após inúmeras cambalhotas. Qual circo Cardinalli, consigo enfiar uma manga da camisola e depois outra. Os sapatos ficam para depois. Prepara biberão. Dá biberão. Calça sapatos. Põe barrete. Coloca no carrinho. Aperta o cinto. Rua.
Tomamos café. Tira do carrinho. Coloca na cadeira do carro. Aperta os cintos. Cadeira está a ficar pequenina. Creche. Tira do carro.....
Vamos para o trabalho. Saímos do trabalho. Pingo Doce. ...cerelac, leite, iogolinos, danoninhos...inhos...inhos...inhos....
Vamos buscar à creche. Põe no carro. Aperta o cinto. Cadeira está mais apertada ainda. Garagem. Tira do carro, põe no carrinho. Jardim.....
Voltamos do jardim. Parque. Gatinhar. Olha a esquina, olha o cesto, olha as tomadas. “Sai daí cão” Kafka, sai!!!!!!!!!!!!!” já caiu, bate com cabeça. .....”ulá ulá não foi nada, anda olha o cãozinho, anda CÁ CAOZINHO, DÁ BEIJO AO BEBÉ”. Cão LAMBE, limpa a baba do cão no bebé. Bebé ri. Parque.
Prepara o jantar. Mói a fruta. Telefone toca. Deixa tocar.
Prepara banho. Pijama, patinhos, espuma, shampoo, toalha, cotonetes, loção de massagem...
Vai para o banho. Brincar. Brincar, mergulha sem querer. Olha o patinho!!! “Não foi nada, não foi nada”.
Tira da água. Limpa, massaja. Veste. Mexe-se, mexe-se volta-se, volta-se. Epopeia de vestir.
Acaba jantar. Sopinha já vem. Papa tudo. Arrota. Caminha.
Umas canções, umas brincadeiras, levanta-se, deita-se, senta-se. Toca o telefone. Deixa tocar.
Cão gane. Não vai à rua hoje. Que faça no terraço, meu cão amado de olhos tristes. “Tens saudades do dono, não É? Também eu...toma um paté..”
Bebé levanta-se, bebé ri, bebé cai, bebé chora, bebé chucha, bebé leva mais beijos...
São dez da noite. Devia ir lavar o cabelo, devia ir arranjar as unhas, devia ir enviar aquele e-mail urgente, devia ir jantar. Prepara comida para amanhã. Mais uma hora de cozinha. Devia ir tomar banho, arranjar as unhas, jantar...
Abandono-me no sofá. Vejo o que mais me embrutece. Adormeço. Vencida.
Cão chora...cão não vai à rua, “toma lá mais um biscoito”.
Vamos jogar à bola lá fora. Jogamos.
Cão adormece. Bebé acorda. É uma da manhã. Prepara biberão.
Devia jantar....
Bebé muda fralda, bebé toma vitamina.
Deito o bebé.
Dá-me um sorriso.
Fico alí a vê-lo adormecer. Tranquilo.
Lindo.
Olhos rasos de lágrimas. Saudades tuas, muitas saudades tuas.
O teu filho é a tua cara.
Olho mais uma vez para o nosso filho.
Olhos rasos de lágrimas.
Como foi possível termos um filho assim.
Saudades tuas. Devia jantar...
3 Comments:
Polly...não tenho liberdade nenhuma para o fazer uma vez q é a primeira ou segunda vez q aqui venho (n sei bem) mas dado o teu desespero deixo-te uma palavrinha de consolo que agora nao parece nada mas que é o q posso dizer:
- a minha pikena tem agora 6 ANOS, mas nem sp foi assim rs....então qd tinha a idade do teu pikeno eu tb estava sozinha praticamente sempre, a viver longe de tudo e d todos (leia-se amigos e familia) e a pirralha era tramada pq nao dormia!!!! nem comia!!! então foram épocas desgastantes, entendo-te e só te posso dizer que melhora rsss....sério: é extenuante cuidar de um bébé e fazer tdas as outras coisas q fazem parte d nós soozinhas :( Ânimo vá lá :)
Na época o meu gato chamava-se Picasso rs...Artisticos hein? :)
beijo e espero q encontres tempo para cuidares de ti.
O ser Mãe é tudo isso, e já de si é bom. A ausência do pai desse filho só te fez lembrar que, além de seres Mãe, tens uma Família completa. Ele voltou, agora está tudo bem. Dorme descansada com o Francisquinho.
Eu não vejo desespero nenhum não ( e que me perdoe a Paula ), vejo sim alguem que ama muito o que a vida lhe ofereceu e vive intesamente todos estes bocadinhos.
Vejo alguém que tem sentido de humor e sensibilidade suficiente para poder descontrair com os momentos mais stressantes...mas tb eu por defeito tento sempre ver o lado melhor da coisa, claro que estou errado muitas vezes, mas pronto.
Gostei muito deste texto.
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