O que me apraz dizer

"Passamos pelas coisas sem as ver, gastos, como animais envelhecidos: se alguém chama por nós não respondemos, se alguém nos pede amor não estremecemos, como frutos de sombra sem sabor, vamos caindo ao chão, apodrecidos".
Eugénio de Andrade
Passamos , pela vida, assim. Sem nos apaixonarmos por este olhar, sem abraçar aquele miudo alí, sem nos lembrarmos daquele amigo, sem que ele se lembre de nós, sem dizer obrigado, sem pensar na vida do indigente que hoje nos pediu um cigarro, sem olhar para as mãos podres de tão sujas do menino de rua, sem perdoar, sem sentir saudade do amor que um dia acabámos. como tudo. Amorfos. Prostados. vivemos. por vezes nem sentimos.
7 Comments:
Adorei este post.
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Creio que não vivemos... A humanidade vive como se fosse um parto que durasse décadas... Temo que sejamos mais pedras, frias e gastas, que humanos... Talvez seja da chuva... Mas nós, humanidade, não vivemos...
Obrigado pela teu comentário no meu blog, coloquei um link para o teu :)
sem ver...
Felizmente que me habituaram a olhar (e ver) em todas as direcções.
Boa noite.
Talvez um dos melhores posts que li ultimamente. Apenas porque é verdade e é mesmo assim...
Por vezes nem somos nem sentimos.
Esquecemo-nos daquilo que devemos ser, e do mundo à nossa volta.
Um dos episódios mais tristes que vi, talvez por ser moça cá da "terrinha", talvez porque a cidade que me acolheu como estudante não ser tão grande assim (Coimbra), talvez por inúmeros factores, foi em Lisboa. Lisboa foi uma cidade onde vivi durante um ano e penso que as pessoas andam anestesiadas. Soltas demais, desprendidas demais, no sentido em que deixam de olhar para o ser humano como aquilo que é. Um ser humano. Sem-abrigos a pernoitar pelas ruas e centenas de pessoas a passar e ninguém olha... já ninguém olha. E é triste, muito triste...
Os perdidos na sociedade são precisamente aqueles a quem já nada incomoda. Nada afecta.
Obrigada por lembrares que existe esse mundo...
e isso... porque quando sentimos... estamos a correr o risco... de ser gente!
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