Wednesday, April 19, 2006

Fechando os olhos


É estranha a forma como por vezes acontecimentos corriqueiros, sim, porque a morte é tão corriqueira como certa, nos afecta e nos transtorna de forma imprevista.

Na madrugada de Domingo, conduzindo o seu renault clio, o Dino da série juvenil “morangos com Açúcar” perdeu a vida na estrada.
O rapaz, de seu nome Francisco, como o meu filho, de belíssimos olhos azuis, como o meu filho, morreu com 22 anos. Como diria a minha mãe, morreu na “flor da vida”.
O Francisco Adam, era um rapaz como qualquer outro de tantos que morrem nas estradas portuguesas.
Após uma noite na discoteca, após umas bejecas, ao volante de um carrinho porreiro que até dá alguma pica, o Francisco morreu num regresso a casa que provavelmente se fazia em excesso de velocidade, um excesso de velocidade comparável ao ritmo que sabemos nos corrre nas veias quando temos 22 anos.

Porque com 22 anos tudo é urgente. Os risos, os amores, a ambição, a beleza, o talento, a sedução, a noite, a diversão, a condução...enfim a vida.
O Francisco, foi apenas mais um miúdo que perdeu a vida ao volante do seu automóvel. Tive amigos que morreram assim. Com 22 anos ou menos até. Amigos que deixaram saudade e relativamente à morte dos quais sempre tive a ingenuidade de acreditar que seria um “até breve”.
O Francisco, era um miúdo. Bonito como tudo, provavelmente, detentor de algum talento, senão pelo menos detentor de um carisma que fazia dele o ídolo de tantos outros miúdos e miúdas, os quais, ontem como hoje, num luto subtil, não percebem ou sequer refutam entender a razão de ser da morte de alguém assim. Tão novo. Tão como eles.

A morte surge para os que não deveriam partir tão cedo. Colhe crianças, colhe jovens, colhe velhos, colhe pais, colhe mães e irmãos.
A morte , por mais que possamos lidar com ela, por mais certa que seja, deixa-me sempre um amargo de boca, uma nostalgia e uma enorme revolta.
Hoje, como mãe, estes acontecimentos contudo, trazem-me ainda o medo. O medo pelo dia que o meu filho, com essa ânsia de vida, pegará num carro e se achará o melhor condutor do mundo. O dia em que o meu filho cometerá os excessos dos seus vinte anos.
O Francisco era um jovem como qualquer outro, mas neste sentimento de morte, tocou-me particularmente o fechar de olhos de uma vida que deveria ter durado mais tempo.
Hoje como sempre, e sem acreditar na igreja, acolho a melhor das explicações e dos confortos para a morte e acredito numa espécie de ressureição...uma qualquer paz que me afaste da racionalidade do fim.
Prefiro assim...

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