Wednesday, March 29, 2006

A loucura e a genialidade andam geralmente de mãos dadas

Ontem, 28 de Março

Virginia Wollf , essa escritora doida que de tão doida imprimiu uma vertente feminista na literatura e um dia se saiu com um magistral Mrs. Dalloway, noutro dia, mais concretamente no dia 28 de Março de um ano que não me recordo, encheu com pedras os bolsos do seu casaco e sucidou-se na águas de River Ouse.


Chagall, de nome de baptismo Moisés e não Marc, consequência da sua origem judaica, a qual o levou a um exílio forçado em terras de tio Sam aquando da 2ª guerra mundial, de louco nada tinha (aparentemente) tendo dedicado a sua vida a fazer poesia sobre uma tela branca. Morreu com quase 100 anos.



Morreram ambos no dia 28 de Março.


O meu sótão está um caos. O caos vai e vem. Um caos que me transtorna. Um caos que me atenua o ânimo de trabalhar.
Os cantos inventados no meu sótão, são adiados como se de um sonho se tratassem.
Desisti já de parte dos cantos que aí idealizei.
Com zonas à la LUX, média luz e muito aconchego. Uma miscelânea de trabalho e zona de lazer, leia-se de dormir umas sestas ou ler um livrinho ao som de uma boa musica.

O meu sótão não é nem escritório, nem porra de LUX nenhum.
Aqui reina um
terrífico caos.

Caos Mental ( de todos nós)

"Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia era bonita, as pessoas diziam-lhe:
- Eu amo-te.E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
- Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para sempre.
Então Deus fê-la feia. A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar com caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais gostavam sempre dela, tanto quando era bonita como quando era feia como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço.
No poço, estava um peixe que comeu a mulher de um trago só, sem a mastigar.
Logo a seguir, passou pelo poço o criado do rei, que pescou o peixe.
Na cozinha do palácio, as criadas, a arranjarem o peixe, descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe morreu.
As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era tão feia que não era feia.
Por isso, quando as criadas foram chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a mulher, o rei apaixonou-se pela mulher.
- Será uma sereia ? . perguntaram em coro as criadas ao rei.
- Não, não é uma sereia porque tem duas pernas, muito tortas, uma mais curta do que a outra . respondeu o rei às criadas.
E o rei convidou a mulher para jantar. Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à mulher quando as criadas se foram embora:
- Eu amo-te. Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com uma azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei:
- Eu amo-te.
Depois comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no tapete de Arraiolos da casa de jantar."
in Adília Lopes: Obra, Lisboa, 2001.
Titulo meu.

è deliciosa a imagem do caroço de azeitona e do tapete de arraiolos.
há um quê de naif e de imaginário feminino neste texto que me comove bestialmente.

Todas somos metade de feio e de bonito.

1 Comments:

Blogger A said...

Vim aqui parar nem sei como e adorei este blog... num universo vincadamente masculino e em que as mulheres que escrevem, pouco me inspiram, um bem hajas!

Vou aparecendo... PJ Harvey(?)

5:00 AM  

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