Monday, September 06, 2004

Digui

Tens apenas oito meses, meu Digui.É assim que gosto de te chamar. Um nome que não sei de onde veio mas que sei que surgiu no dia em que te abracei pela primeira vez. Frágil, com mãos minúsculas, pernas que pareciam linhas e uns olhos que já nessa altura inundavam de cor e luz o Dezembro cinzento que nos esperava lá fora.
De súbito, deste-me o desmesurado conhecimento do afecto e ofereceste-me a sensação de gratidão pela vida.
Estás deitado na tua caminha e levantas os braços para cima,
Agora deitas-te num impulso, fazendo um sorriso misto de mimo e vergonha. Já tens manhas e já tens dois dentes. Já dás gargalhadas e fazes “escondidinhos.” Já te queres por de pé e já vagueias pelo chão do teu quarto que calculo para ti terá a imensidão do mundo.
Às vezes olho para ti e percebo que já não concebo a minha vida sem a tua presença. Este amor não tem de facto paralelo com absolutamente nenhum outro.
No teu acordar, de bem com a vida, de sorriso aberto, há todo um mundo de possibilidades também para mim. Há um conforto submerso em capa de responsabilidade acrescida que me escancara o nascer do dia como se de uma oferta única se tratasse. Nunca, na minha vida antes de ti, a felicidade me tinha surgido mais do que como uma possibilidade, ou eventualmente um momento pontual, fugaz ainda que eternamente gravado na memória. A vida é diferente depois de ti. É esse cheiro que vem do teu hálito de leite pela manhã, é esse beijo terrivelmente salivado que me dás, é essa forma estranha que tens de trepar por mim acima com uma ânsia, uma sofreguidão jamais sentida, que me dá esta certeza de vida e da tal felicidade inesgotável.
De noite aconchego-te inúmeras vezes os lençóis que vais afastando nas tuas deambulações nocturnas. Lembro-me de o meu pai me fazer o mesmo e de aquele pequeno gesto afastar num segundo todos os demónios que me atormentavam o sono. Lembro-me do conforto daquele beijo da minha mãe e de adormecer assim, embalada nos cheiros dos meus pais.
Às vezes, sinto o “peso” dessa certeza, desta imensidão de referência que significo para ti, de um dia reteres na tua memória o meu cheiro e o meu gesto de amor. De saberes exactamente que é esta a mão que te afaga o cabelo e te diz ao ouvido que sonhes com os anjos.
Gosto dos minutos que te fico a olhar, cada um deles e por cada um que passa já sinto saudade do que passou. Saudade de te ter assim. Pequenino. Adoro-te Francisco, é só isto que tenho para te dizer.


1 Comments:

Blogger Hugo Santos - Portfólio said...

Não tem anda a ver com o assunto mas aproveitei este espaço para te perguntar se já viste o Fahrenheit 9/11, e o que achaste.

Já agora gostava que visses um filme que durante anos tentei ver e apenas agora vi, pois conhecia há já muito tempo a banda sonora do Philip Glass: Kyaanisqatsi

Beijinhos à família

7:16 AM  

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