Thursday, September 02, 2004

Barco....

Já sei que vou ser criticada. Já sei que inúmeros, senão todos, não vão concordar comigo. Vão até estranhar-me. Vão até insultar-me baixinho...
Não concordo com a vinda do apelidado barco do aborto. Não concordo com as petições a favor da sua entrada. Não concordo com as senhoras de feminilidade questionável a baterem com a mão no peito clamando histericamente o direito a fazerem o que entendem com as suas barrigas.
Não entendo as vozes caladas, a omissão de manifestações contra as condições de saúde neste país. Não entendo as comemorações e histeria colectiva perante o Euro 2004 e as consequentes gastos de fundos para estádios estéreis cujos montantes dariam para erigir melhoras nas condições de vida dos portugueses. Porque não foram para a rua e assinaram petições nessa data? Porque é que não há revolta contra a falta de médicos nas periferias e consequentemente contra a falta de contracepção e planeamento familiar? Porque não existem petições para reforço de abono de família e ajuda a famílias carenciadas? Porque não se reforçam as inspecções ao rendimento mínimo (agora tem outra denominação...) e se atribui o mesmo a quem de facto do mesmo necessita?
Porque não revoltam as pessoas contra as mulheres que imprudentemente e sem qualquer tipo de lacuna socio-cultural-economica, utilizam o aborto imprudentemente, inconsequentemente e sem qualquer respeito pela vida?
Porque é que nunca se soube fazer um debate decente sobre a questão do aborto, alertando, com imparcialidade, com competência e com conhecimento, para todos os prós e contras do recurso e descriminalização deste crime?
Não me venham dizer que não há a porra de vida, porque há inquestionavelmente vida! Digam-me antes que poderá haver ponderação e conflito de interesse...em casos pontuais, meus senhores, porque existem milhares de abortos praticados, como disse, de forma brutalmente imprudente, inconsciente e criminosamente anti-concepcional!
Não me venham dizer que deverá ser descriminalizado dando assim de bandeja a possibilidade de se recorrer a ele da referida forma irreflectida! Não temos a suficiente, sequer a mínima, cultura ou mentalidade, ou condições para que isso aconteça!
Em boa verdade até o aborto eugénico é arrepiante...em boa verdade, quem somos nós para determinar que uma criança, por ser portadora de deficiência, não tem direito à vida que lhe concedemos ab initio?

Arrepiam-me todas as vozes com certezas neste assunto: Todas sem excepção. Porque todos terão razões, mas porque todos, inclusive eu, falamos de algo que, permitam-me, é sagrado e nós, sem duvida, somos obscena, profunda e demasiadamente profanos.

Não assinarei qualquer petição e pelos mesmos motivos não concordo com a vinda do barco do aborto. Não serão totalmente legais os motivos aduzidos pelo governo, de facto, a mera prognose de no mesmo de poder vir a realizar o aborto, não é causa justificativa e oponível à livre circulação de cidadaãos CE. Todos nós podemos no instante seguinte praticar um crime, e apenas em filmes de Spilberg, podemos ser presos antes da pratica do mesmo.
Outros fundamentos no entanto existiriam.

A mim penalizo-me, a vós penalizo por nunca verdadeiramente nos termos debruçado sobre a imensidão da problemática do aborto. A todos nós atiro pedras pela hipocrisia. A muitos atiro a primeira pedra por utilizarem mais uma vez um assunto de melindre inquestionável para questões políticas. A isenção está muito longe do tema e isso é uma pena.
E por favor não me venham com o argumento de que sendo criminalizado ou punido se continuará a praticar, porque então, por via desse argumento falacioso todos os crimes praticados diariamente deveriam, na mesma ordem de ideias, ser igualmente despenalizados.
Também não me falem em direito da mulher, pois estou certa em lugar algum uma mulher que pratique aborto o encarará como um direito!
A propósito eu votei a favor no referendo.Perdoem-me mas hoje não sei se o faria.


3 Comments:

Blogger Hugo Santos - Portfólio said...

Ponderei se respondia se não respondia...
Mas cá estou...

Ponto 1, e mais importante:
Ser-se a favor da despenalização do aborto não é ser-se a favor do aborto.

Concordo contigo quando dizes que uma criança inválida tem tanto direito a nascer quanto uma criança plenamente sã, ou seja, esse argumento não pode ser usado como desculpa para a actual lei ser suficiente.
Mas não passa pela existência de uma lei que ninguém cumpre, uma lei que atira para a clandestinidade um acto que já de si é perigoso, ou para os bolsos de médicos e clinicas corruptas. A realidade é essa.
A realidade que eu queria seria a tal do planeamento familiar, a tal da consciência cívica que nos leva a tomarmos as precauções nos momentos certos. Mas essa realidade vai-se construindo. Uma das etapas dessa realidade é abrir os olhos para ela, e uma das formas de o fazer será despenalizar o aborto pois dessa forma se sabe quem o faz, porque o faz, qual o meio em que ela vive, etc. Penso que embora sendo um mal menor, será um passo em frente na escalada para a prefeição.
A hipocrisia é dos que, não criando condições para que as mulheres que não têm planeamnto familiar, dinheiro, ética, as obrigam a fazer abortos na clandestinidade, piorando ainda mais as condições delas.
Acho uqe muita gente se esquece de frases que têm um poder absolutamente incontestável como esta que Jesus disse: Pobres sempre existirão.

Embora possa parecer queo salto que aqui vou dar seja grande, pego no exemplo da droga para fazer uma analogia:
Não sou a favor da droga, não acho que faça bem a ninguém (embora a nossa sociedade esteja baseada na genialidade que foi potenciada em algumas pessoas que consumiam droga... para atingirem estadios de percepção mais vastos), não sou por isso apologista da droga, mas ela existe e o mal que a ela está associado, a maior parte dos males, existe porque a sua proibição o fabrica: o trafico de armas, os roubos, a prostituição, a degradação social motivada pela esclusão sem preocupação, etc, etc. Penso que a problematica da droga é potenciada pela sua proibição, no sentido em que nºao vejo pessoas a matarem-se sob o efeito da droga mas porque precisam de dinheiro para a comprar uma vez que ela é proibida.

A questão do aborto amiga é semelhante.
A sociedade é hipocrita porque proibe uma coisa agravando-a, porque fecha os olhos para os problemas que existem e ainda os agrava.

O barco do aborto tem esse nome porque mentes limitadas assim o queiseram intitular. Onde é que um barco constituido por pessoas especializadas na problematica do aborto, prontas a fazer workshops de sexualidade e planeamento familiar é um barco do aborto??? Será que não é obvio que esse barco é apenas uma forma de chamar a atenção para a hipocrisia existente na sociedade portuguesa?
O referendo acerca da DESPENALIZAÇÂO do aborto foi o meu primiro grande choque com a ignorancia da sociedade portuguesa.
Eu acho que os prós e contras da despenalização já foram muito discutidos e penso que me parece óbvio que dentro dos males existentes seria efectivamente um mal menor a sua existencia. Também me parece óbvio que existem pessoas do lado da despenalizaç~ºao por motivos pouco conscientes. Mas não é por esses que eu luto. eu luto por aqueles que estão do lado da não despenalização e que não sabem o mal que fazem à sociedade por assim o serem, e nem sabem porque o são.

Amiga, se rpoibes alguém de fazer um aborto, paga a manutenção de uma vida saudavel à criança que dali vai sair, lembrando-te que à partida já saiu sem ser planeada, do seio de uma família com perspectivas de vida limitadas, e que assim continuará se a hipocrisia continuar.

Não sou a favor do aborto. Sou a favor da despenalização. Sou a favor da consciência.
E detesto gente que ganha dinheiro à custa da infelicidade dos outros e detesto os outros que se dizem moralistas quando nada contribuem para uma sociedade melhor.

Que mais posso dizer? Serei acusado de atentar contra a dignidade humana? É dignidade humana usar carne para canhão apenas porque queremos mais uma para as estatísticas da nossa consciência moral?

Não acho criminosas as pessoas que matam um feto. Acho criminoso o tempo que as sociedades e os homens demoram a ganhar consiência quando já tantos bons exemplos foram dados.

8:54 AM  
Blogger Hugo Santos - Portfólio said...

Esqueci-me.

Não podes pegar na despenalização do aborto como se pega na despenalização de um roubo ou outro crime.
Proibir um roubo não leva a que pessoas lucrem com esa proibição, não degrada mais a sociedade. Proibir um crime desses não leva a outros crimes.

Proibir o aborto sim, leva a outros crimes, não só o próprio acto de abortar um ser que ainda não está constituido (o que dirias se a igreja ainda tivesse razão quando recriminava a masturbação porque ali já existiam seres em potência) mas também todos os probelmas que surgem na clandestinidade que, como é obvio, não preciso de referir.

9:04 AM  
Blogger Hugo Santos - Portfólio said...

Chamaste-me nino?... Não sei porquê mas gosto Sonia... é como chamarem-me moço.

Se não vês o lucro que existe com o aborto clandestino... não sei o que te possa dizer... as clinicas que o fazem normalmente cobram altos "juros". Era a isso que me referia.

Mas não vou discutir mais isto pois já disse o que tinha a dizer e de forma suficientemente argumentada.

Quando ao nino... sou hugo ou amigo ou colega ou conhecido, nino não sou, só para a minha avó.

2:46 AM  

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