Wednesday, January 17, 2007

Não suporto os movimentos de esquerda que arraigados de todos os males do mundo, abraçando todos os menosprezados da vida, se arrogam vir para a praça publica, envergando suas vestes thimberland displicente e propositadamente engelhadas, a bater com a mãozinha no peito e a gastar carradas de dinheiro em publicidade, para convencerem o povo para o facilitismo do “sim” ao referendo.

Não suporto as mãezinhas de família, padres, cds pps e afins, que vêm erguer a bandeira do “não” recorrendo a imagens distorcidas e dantescas acompanhadas de discursos de sapiência cristã.

Já o disse. Não pactuo com o facilitismo de um Estado que se demite da sua função. Não pactuo com esta hipocrisia de referendar, novamente, quando o poder legislativo poderia resolver a questão. Não pactuo com a hipocrisia de se fundamentar o referido referendo na alegada distorção do normativo existente. Não pactuo com clínicas de aborto, que sim, é verdade, serão custeadas com o dinheiro dos meus impostos. Não pactuo com a possibilidade de ver jovens porem fim a uma vida.
Não pactuo com os argumentos do “sim”. Porque esta é apenas uma questão de consciência. Sem religião ou cor partidária. Porque esta é uma questão que não se compadece com a arrogância de dizer “ a barriga é minha”, porque não o é. Porque esta é uma questão de vida. Apenas isso. De vida. De duas vidas em “conflito”. Mas em que nenhuma vale menos que a outra. Muito menos quando em causa estão fundamentos diferentes dos plasmados na lei.
E porra não me venham contra argumentar dizendo que então também deveria ser contra a actual lei penal.
Sei perfeitamente a quantidade de abortos ilegais que a esta hora se estão a praticar em condições desumanas.
Mas
Vou votar não. Porque em consciência me doem todos os abortos praticados e não será a legalização dos mesmos que me retirará essa dor. Apenas a agudizará.

Aquele coração Bate para a vida. Apenas para a vida.


"Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não".



Sophia de Mello Breyner Andresen

5 Comments:

Blogger Nuno Guronsan said...

Respeito a tua opinião, especialmente pela maneira como a defendes. Acho que deves continuar a a mostrá-la desta forma. Mesmo perante aqueles que irão votar em sentido contrário, como é o meu caso. Aliás, especialmente perante esses. O debate de ideias é o princípio fundamental da abertura das consciências.

Beijo.

12:04 PM  
Blogger SK said...

Como dizes bem, é uma questão de consciência. Não jurídica e muito menos que possa ser imposta.
Mas o que está em análise é vida humana, não vida em geral, porque senão as coisas complicavam-se muito com tantas manifestações da mesma.
E a dor pessoal, perfeitamente legítima, assim como o sistema de valores éticos, não pode ter repercussão num sistema jurídico.
E tu saberás melhor que ninguém que, salvo raras excepções, de pessoas que não terão discernimento para isso como para nada, poucas mulheres o farão de ânimo leve.
Mas, como dizes, cada um decidirá de acordo com a sua consciência.
Eu, pelo que me diz respeito, espero que a hipocrisia e a estigmatização terminem.
Cada um terá os seus motivos.

Beijinhos. :)

3:32 AM  
Blogger Zé Miguel Gomes said...

Cada cabeça sua sentença... Cada pessoa sua ideologia... Há que defender...

Fica bem,
Miguel

7:27 AM  
Blogger asdrubal tudo bem said...

confesso que estive quase a sair sem deixar qualquer comentário. (não gosto de poesia)
Mas quando cheguei li um texto que gostei muito. (não esotu a dizer que concordo ou não digo apenas que gostei) Neste momento estou mais inclinado para o não e apenas porque tenho medo que com a legalização se entre num espirito de nanalização, tão comum entre nós, e muitas mulheres comecem a usar o aborto não como um acto de desespero mas como método anticoncepcional.

1:36 AM  
Anonymous Anonymous said...

Good words.

8:52 AM  

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