Thursday, January 13, 2005

MORE

Chamo-lhe “More” há já muitos anos.
A minha amiga “more” foi uma amiga tardia. Estávamos no final da universidade, ambas com a estúpida cadeira de Direito Económico em atraso, quando começamos a “sorrir” uma para a outra. Foi por pouco tempo que convivemos na universidade e pouco tempo aquele que podemos partilhar na cidade de Lisboa, minha cidade, cidade de acolhimento dela. Depois do final do curso a “More” partiu para a sua terra natal e desde então apenas estivemos juntas numas memoráveis férias algarvias. O tempo era feito de trocas de desabafos nocturnos, de gargalhadas contagiosas, de piadas quase sem graça, de musicas que se cantarolavam com a ingenuidade da adolescência. Embora na data não tivesse essa perspectiva, creio que éramos de facto umas miúdas.
Hoje, a minha relação com a “More” é uma quase relação de amiga por correspondência. Daquelas que tínhamos quando éramos crianças e nos correspondíamos com gente de locais tão diferentes como a Grã Bretanha, Islândia ou Áustria (estou a referir-me em particular às pen-friends que me lembro).

Mas voltando à minha relação com a “More”, a verdade é que esta, não obstante a distância, tem sido uma amiga presente. Acompanhou-me no inicio da relação com o meu amor, acompanhou e esteve presente na nossa festa de “união”, acompanhou os momentos menos bons da saúde daqueles que amo, acompanhou a minha gravidez, e acompanha agora o crescimento do meu filho, note-se, o meu crescimento também.

A “More” é uma amiga por correspondência, de quem guardo e recordo a gargalhada contagiosa e rasgada, é a amiga mimada e doce, é a amiga com o olhar de mel terno, é a amiga com o mais subtil e oportuno dos sentidos de humor. Mas é também a amiga em que me encontro...na poesia, na leitura, no cinema, nos trapinhos que gostamos de comprar, nos objectos para a casa, nas futilidades e nos recheios de alma que ambas sentimos e/ou somos.
A “More”, será provavelmente a amiga que melhor entendeu a minha maternidade. Porque a “more”, é intrinsecamente “mãe”, porque as suas mãos foram talhadas para dar ternura a gente pequenina, porque a sua forma de ser e viver está inquestionavelmente balizada pela necessidade de dar e receber afectos.
È neste mundo de afectos que a “more” trabalha. Sofrendo muitas vezes o vazio da ternura, a “more” vai despejando a sua ternura em quem mais dela precisa. A “More” chega por vezes a casa exausta de dar, sedenta de receber. Aí a “more” põe um disquinho bom, aconchega-se na voz de Chico buarque e, quando em vez, deixa escapar uma lágrima. Porque tem saudade de tempos e odores passados, porque tem desesperanças de esperanças que teimam em se atrasar.
A “more” é uma menina que adoro, uma menina que poderia ter sido minha irmã. A irmã que a ambas fez falta. Para a partilha, para o endurecimento das dores da alma, para o desabafo a horas tardias, para o conselho que às vezes temos de buscar em nós.

A “more” é um quadro de Klimt, pela de cor e aconchego, é poema de Alexandre O’neill, cheio de razão, gritos e desventuras, é um filme de Burton, cheio de fantasias e meninas a vaguear em bosques que vão dar direitinhos ao mundo em que todos os meninos são felizes.

Obrigada “More”.


0 Comments:

Post a Comment

<< Home