Wednesday, December 15, 2004

Natal

Estranho o facto de ainda não ter falado do Natal.
Sabem aqueles que me conhecem o quanto gosto do Natal. Dos cheiros que me ficavam da infância, da mesa bonita que minha mãe colocava, da minha avó bem velhinha a ver comigo o Natal dos Hospitais, do perú bêbado que ninguém queria matar, do leitãozinho que eu teimava em tratar como se de um Nenuco se tratasse sem a consciência que era um cadáver que jazia na varanda da cozinha com destino traçado para o forno.
Lembro-me de passar horas a brincar com o presépio, inventando histórias em que o menino Jesus pedia ao seu pai que o levasse ao jardim zooloógico...lembro-me do cheiro do musgo que a minha mãe ía comprar ao mercado, lembro-me do bazar (unica loja de brinquedos da zona), onde eu me perdia de olhos brilhantes a remexer em tudo que eram roupas, carrinhos de bebé, legos e peluches...
Lembro-me das surpresas da minha irmã, da forma como esta vibrava com as minhas histerias pré natalícias, com os meus febrões de ânsia, com a minha anorexia de dia 24...lembro-me do stress saudável daquela cozinha cheia de fritos e arroz doce. Era tão bom o natal!


O extraordinário de tudo isto, é que hoje com uma postura de mãe, continuo claramente a sentir-me como filha. Enfeito a árvore de Natal, como o meu pai fazia, imitando cada gesto das suas mãos bonitas. Mas enfeito-a com o encantamento igual àquele que tinha quando os meus olhos acompanhavam cada colocar de bola e estrela. Ahhh...o terno beijo que o meu pai me dá-va quando colocava a estrela no topo...
Fiz o presépio e ainda hoje tenho a tentação de colocar a Maria a aconchegar o Menino em algodão para que não tenha frio à Noite. Ainda tenho a tendência para achar que ele gostaria de ir ao Zoo...
Neste Natal, o meu “piolho” já percebe alguma coisa, pelo menos percebe a não rotina da quadra, percebe as cores, e percebe os risos.
Na minha família, creio, todos continuamos a encher o Natal de sonhos e carinhos tantas vezes negligenciados durante o ano. Tenho as minhas sobrinhas comigo, e olhar para elas tão grandes, tão belas mulheres, traz-me à memória aquela noite de nervos que era tentar que elas não percebessem, enquanto roíam as unhas e tiravam macacos do nariz (sim, é verdade!) que os barulhos lá fora, junto à chaminé, pelo corredor, não eram do Pai Natal, mas sim de um de nós que teimava em prolongar o sonho.
O sonho do meu filho começa este ano. Vou fazer-lhe a ele o mesmo que os meus pais me faziam a mim. A árvore, o presépio, o cheiro a cabrito assado e a sonhos fritos. Os presentes que o Pai Natal carrega, a baixa enfeitada em passeio de dia 23 (lembraste, Bárbara de irmos sempre ver os enfeites da Baixa no dia 23, de mão dada e na carreira do autocarro nº46?), os sinos do Pai Natal, os presentes à meia-noite, a alvorada doce da fria manhã de dia 25, os restos de papel de embrulho pelo chão da sala, a camisola nova que todos envergamos, o aconchego do colo quando o cansaço supera a vontade brincar e experimentar cada uma das prendas...

Ao meu lado, tenho todos os que amo. O meu príncipe, que também é menino sonhador, vibra comigo em cada um dos enfeites que coloco. Ele sabe como sou e, creio, admira-me também por esta infantilidade quase patética que persiste em permanecer em mim.


O Natal passado, uma semana antes do mesmo, nasceu o meu Francisco. Veio antes do tempo, porque antes do tempo deu a volta e rebentou as águas em que estava mergulhado, Quis ele que fosse assim.
E no Natal passado voltei acreditar que o Pai Natal existe.


2 Comments:

Blogger Deb said...

isso dos macacos é coisa que se diga para todo o mundo saber????? so por essa nao vou elogiar o post nataliciamente nostalgico! hunf!

12:25 PM  
Anonymous Anonymous said...

que lindo!!!!!!!!
inda bem que estás feliz junto do teu francisco, do Luis e restante familia. inda bem que partilhaste essa felicidade com todos nós, senti-me parte desse presépio bonito ; )
um beijo GRANDE para ti, um xi coração enorme para o meu sobrinho, tudo de bom.

12:35 PM  

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