Tuesday, January 10, 2006

Maresia

"Metade da minha alma é feita de maresia"


Deve ser verdade. De uma maresia cristalina e silenciosa que se cala quando não devia fazê-lo. A maresia perde os que ama sem sequer os perder. Perde-os de vista, misturados com a poeira que a vida, os egoismos , os egocentrismos, as vaidades, as arrogâncias e as certezas lhes lançaram para os olhos.
E no cheiro de uma manhã nublosa, recorda-se de abraços de outrora, de carinhos que deu, de afagos que não negou, de sorrisos e gargalhadas, de histórias de outros tempos...
pesadas ondas cheias de espuma levam consigo os adornos de Natal, os projectos que alí se colocaram, sorrisos do meu filho que alí inventei. Meu querido Pai, meu Pai Natal.
A minha inércia, a minha falta de coragem para me erguer e gritar. A minha estupida e inepta maresia.

A maresia tem um pai, e uma mãe, e um filho e um amor que também tem cheiro de mar. E a maresia gosta de abraça-los, de respeitá-los, quere-los mais que muito. A maresia gostava de os ninar para sempre, de os guardar junto do coração, longe das ondas, longe das turbulências, longe das imensas ausências, longe de tantas das coisas de que é feito este mar.

E a maresia, sozinha no seu silêncio chora bem baixinho. Pelos momentos que alí se quedaram, pelos laços que alí se romperam, pelas âncoras que alí se soltaram, nesse dia que tinha nome de Natal.
E ficaram poucos e a maresia chorou...pelos que partiram e troçaram dela, pelos que se foram e que no alto da sua vaidade a desprezaram pelo simples facto de nunca a terem sentido.

Metade de mim é feita de maresia, e por não saber gritar, por não saber por fim, tantas vezes metade de mim queria mais ser onda.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home